Manifestos Integralistas


MANIFESTO DE OUTUBRO

À Nação Brasileira – Ao operariado do país e aos
sindicatos de classe – Aos homens de cultura e
pensamento – À mocidade das escolas e das
trincheiras – Às classes armadas!

I
Concepção do Universo e do Homem
Deus dirige os destinos dos povos. O Homem deve praticar sobre a terra as virtudes que o elevam e o aperfeiçoam. O homem vale pelo trabalho, pelo sacrifício em favor da Família, da Pátria e da Sociedade. Vale pelo estudo, pela inteligência, pela honestidade, pelo progresso nas ciências, nas artes, na capacidade técnica, tendo por fim o bem-estar da Nação e o elevamento moral das pessoas. A riqueza é bem passageiro, que não engrandece ninguém, desde que não sejam cumpridos pelos seus detentores os deveres que rigorosamente impõe, para com a Sociedade e a Pátria. Todos podem e devem viver em harmonia, uns respeitando e estimando os outros, cada qual distinguindo-se nas suas aptidões, pois cada homem tem uma vocação própria e é o conjunto dessas vocações que realiza a grandeza da Nacionalidade e a felicidade social.
Os homens e as classes, pois, podem e devem viver em harmonia. É possível ao mais modesto operário galgar uma elevada posição financeira ou intelectual. Cumpre que cada um se eleve segundo sua vocação. Todos os homens são susceptíveis de harmonização social e toda superioridade provém de uma só superioridade que existe acima dos homens: a sua comum e sobrenatural finalidade. Esse é um pensamento profundamente brasileiro, que vem das raízes cristãs da nossa História e está no intimo de todos os corações.

II
Como entendemos a Nação Brasileira
A Nação Brasileira deve ser organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica, próspera e feliz. Para isso precisamos de que todos os brasileiros estejam unidos. Mas o Brasil não pode realizar a união intima e perfeita de seus filhos, enquanto existirem Estados dentro do Estado, partidos políticos fracionando a Nação, classes lutando contra classes, indivíduos isolados, exercendo a ação pessoal nas decisões do governo; enfim todo e qualquer processo de divisão do povo brasileiro. Por isso, a Nação precisa de organizar-se em classes profissionais. Cada brasileiro se inscreverá na sua classe. Essas classes elegem, cada uma de per si, seus representantes nas Câmaras Municipais, nos Congressos Provinciais e nos Congressos Gerais. Os eleitos para as Câmaras Municipais elegem o seu presidente e o prefeito. Os eleitos para os congressos Provinciais elegem o governador da Província. Os eleitos para os Congressos Nacionais elegem o Chefe da Nação, perante o qual respondem os ministros de sua livre escolha.

III
O Princípio de Autoridade
Uma Nação, para progredir em paz, para ver frutificar seus esforços, para lograr prestígio no Interior e no Exterior, precisa ter uma perfeita consciência do Princípio de Autoridade. Precisamos de Autoridade capaz de tomar iniciativas em beneficio de todos e de cada um; capaz de evitar que os ricos, os poderosos, os estrangeiros, os grupos políticos exerçam influencia nas decisões do governo, prejudicando os interesses fundamentais da Nação. Precisamos de hierarquia, de disciplina, sem o que só haverá desordem. Um governo que saia da livre vontade de todas as classes é representativo da Pátria: como tal deve ser auxiliado, respeitado, estimado e prestigiado. Nele deve repousar a confiança do povo. A ele devem ser facultados os meios de manter a justiça social, a harmonia de todas as classes, visando sempre os superiores interesses da coletividade brasileira. Hierarquia, confiança, ordem, paz, respeito, eis o de que precisamos no Brasil.

IV
O Nosso Nacionalismo
O cosmopolitismo, isto é, a influencia estrangeira, é um mal de morte para o nosso Nacionalismo. Combatê-lo é o nosso dever. E isso não quer dizer má vontade para com as Nações amigas, para com os filhos de outros países, que aqui também trabalham objetivando o engrandecimento da Nação Brasileira e cujos descendentes estão integrados em nossa própria vida de povo. Referimo-nos aos costumes, que estão enraizados, principalmente em nossa burguesia, embevecida por essa civilização que esta periclitando na Europa e nos estados Unidos. Os nossos lares estão impregnados de estrangeirismos; as nossas palestras, o nosso modo de encarar a vida, não são mais brasileiros. Os brasileiros das cidades não conhecem os pensadores, os escritores, os poetas nacionais. Envergonham-se também do caboclo e do negro de nossa terra. Adquiriram hábitos cosmopolitas. Não conhecem todas as dificuldades e todos os heroísmos, todos os sofrimentos e todas as aspirações, o sonho, a energia, a coragem do povo brasileiro. Vivem a cobri-lo de baldões e de ironias, a amesquinhar as raças de que proviemos. Vivem a engrandecer tudo o que é de fora, desprezando todas as iniciativas nacionais. Tendo-nos dado um regime político inadequado, preferem, diante dos desastres da Pátria, acusar o brasileiro de incapaz, em vez de confessar que o regime é que era incapaz. Cépticos, desiludidos, esgotados de prazeres, tudo o que falam esses poderosos ou esses grandes e pequenos burgueses, destila um veneno que corrói a alma da mocidade. Criaram preconceitos étnicos originários de países que nos querem dominar. Desprezaram todas as nossas tradições. E procuram implantar a imoralidade de costumes. Nós somos contra a influencia perniciosa dessa pseudo-civilização, que nos quer estandardizar. E somos contra a influencia do comunismo, que representa o capitalismo soviético, o imperialismo russo, que pretende reduzir-nos a uma capitania. Levantamo-nos, num grande movimento nacionalista, para afirmar o valor do Brasil e de tudo que é útil e belo, no caráter e nos costumes brasileiros; para unir todos os brasileiros num só espírito: o tapuio amazônico, o nordestino, o sertanejo das províncias nortistas e centrais, os caiçaras e piraquaras, vaqueiros, calús, capichabas, calungas, paroaras, garimpeiros, os boiadeiros e tropeiros de Minas, Goiás, Mato Grosso; colonos, sitiantes, agregados, pequenos artífices de São Paulo; ervateiros do Paraná e Santa Catarina; os gaúchos dos pampas; o operariado de todas as regiões; a mocidade das escolas; os comerciantes, industriais, fazendeiros; os professores, os artistas, os funcionários, os médicos, os advogados, os engenheiros, os trabalhadores de todas as vias-férreas; os soldados, os marinheiros – todos os que ainda têm no coração o amor de seus maiores e o entusiasmo pelo Brasil. Temos de invocar nossas tradições gloriosas, temos de nos afirmar como um povo unido e forte, que nada mais poderá dividir. O nacionalismo para nós não é apenas o culto da Bandeira e do Hino Nacional; é a profunda consciência das nossas necessidades, do caráter, das tendências, das aspirações da Pátria e do valor de um povo. Essa é uma grande campanha que vamos empreender.

V
Nós, os Partidos e o Governo
Nós, brasileiros unidos, de todas as Províncias, propomo-nos a criar uma cultura, uma civilização, um modo de vida genuinamente brasileiros. Queremos criar um direito público nosso, de acordo com as nossas realidades e aspirações, um governo que garanta a unidade de todas as províncias, a harmonia de todas as classes, as iniciativas de todos os indivíduos, a supervisão do Estado, a construção nacional. Por isso, o nosso ideal não nos permite entrar em combinações com partidos regionais, pois não reconhecemos esses partidos; reconhecemos a Nação.
Enquanto não virmos o Brasil organizado, sem o mal dos partidarismos egoístas, o Estado Brasileiro exprimindo classes, dirigindo a Nação pelo cérebro das suas elites, não descansaremos, na propaganda que nos impomos.
A nossa Pátria não pode continuar a ser retalhada pelos governadores de Estados, pelos partidos, pelas classes em luta, pelos caudilhos. A nossa Pátria precisa de estar unida e forte, solidamente construída, de modo a escapar ao domínio estrangeiro, que a ameaça dia a dia, e salvar-se do comunismo internacionalista que esta entrando no seu corpo, como um cancro. Por isso, não colaboramos com nenhuma organização partidária, que vise dividir os brasileiros. Repetimos a frase do lendário Osório, quando escrevia dos campos do Paraguai, dizendo que não reconhecia partidos, porque eles dividiam a Nação e esta deve estar coesa na hora do perigo. Juramos, hoje, união, fidelidade uns aos outros, fidelidade ao destino desta geração. Ou os que estão no pode realizam o nosso pensamento político, ou nós, da Ação Integralista Brasileira, nos declararemos proscritos, espontaneamente, da falsa vida política da Nação, até ao dia em que formos um número tão grande, que restauraremos os nossos direitos de cidadania, e pela força desse número conquistaremos o Poder da Republica. Por isso, marcharemos através do Futuro e nada haverá que nos detenha, porque marcham conosco a consciência da Nação e a honra do Brasil.

VI
O que pensamos das conspirações e da politicagem de grupos e facções
Declaramo-nos inimigos de todas conspirações, de todas as tramas, conjurações, conchavos de bastidores, confabulações secretas, sedições. A nossa campanha é cultural, moral. educacional, social, às claras, em campo raso, de peito aberto, de cabeça erguida. Quem se bate por princípios não precisa combinar cousa alguma nas trevas. Quem marcha em nome das idéias nítidas, definidas, não precisa de máscaras. A nossa Pátria está miseravelmente lacerada de conspiratas. Políticos e governos tratam de interesses imediatos, por isso é que conspiram. Nós pregamos a lealdade, a franqueza, a opinião a descoberto, a luta no campo das idéias. As confabulações dos políticos estão desfibrando o caráter do povo brasileiro. Civis e militares giram em torno de pessoas, por falta de nitidez de programas. Todos os seus programas são os mesmos e esses homens estão separados por motivos de interesses pessoais e de grupos. Por isso, uns tramam contra os outros. E, enquanto isso, o comunismo trama contra todos. Nós pregamos a franqueza e a coragem mental. Somos pelo Brasil Unido, pela Família, pela Propriedade, pela organização e representação legítima das classes; pela moral religiosa; pela participação direta dos intelectuais no governo da República; pela abolição dos Estados dentro do Estado; por uma política benéfica do Brasil na América do Sul; por uma campanha nacionalista contra a influencia dos países Imperialistas, e, sem tréguas, contra o comunismo russo. Nós somos a Revolução em marcha. Mas a revolução com idéias. Por isso, franca, leal e corajosa.

VII
A questão social como a considera a Ação Integralista Brasileira
A questão social deve ser resolvida pela cooperação de todos, conforme a justiça e o desejo que cada um nutre de progredir e melhorar. O direito de propriedade é fundamental para nós, considerado no seu caráter natural e pessoal. O capitalismo atenta hoje contra esse direito, baseado como se acha no individualismo desenfreado, assinalador da fisionomia do sistema econômico liberal-democrático. Temos de adotar novos processos reguladores da produção e do comércio, de modo que o governo possa evitar os desequilíbrios nocivos à estabilidade social. O comunismo não é uma solução, porque se baseia nos mesmos princípios fundamentais do capitalismo, com a agravante de reduzir todos os patrões a um só e escravizar o operariado a uma minoria de funcionários cruéis, recrutados todos na burguesia. O comunismo destrói a família para melhor escravizar o operário ao Estado; destrói a personalidade humana para melhor escravizar o homem à coletividade; destrói a religião para melhor escravizar o ser humano aos instintos; destrói a iniciativa de cada um, mata o estimulo, sacrifica uma humanidade inteira, por um sonho, falsamente científico, que promete realizar o mais breve possível, isto é, daqui a 200 anos, no mínimo. O que nós desejamos dar ao operário, ao camponês, ao soldado, ao marinheiro é a possibilidade de subir conforme a sua vocação e seus justos desejos. Pretendemos dar meios a todos para que possam galgar, pelas suas qualidades, pelo trabalho e pela constância, uma posição cada vez melhor, tanto na sua classe, como fora dela e até no governo da Nação. Nós não ensinamos ao operário a doutrina da covardia, da desilusão, do ódio, da renúncia, como o comunismo, ou a anarquia; a doutrina da submissão, do ostracismo inevitável, da conformação com as imposições dos políticos, como a democracia liberal. Nós ensinamos a doutrina da coragem, da esperança, do amor à Pátria, à Sociedade, à Vida, no que esta tem de mais belo e de conquistável, da ambição justa de progredir, de possuir os bens, de elevar-se, de elevar a família. Não destruímos a pessoa, como o comunismo; nem a oprimimos, como a liberal-democracia; dignificamo-la. Queremos o operário, com garantia de salários adequados às suas necessidades, interessando-se nos lucros conforme o seu esforço e capacidade; de fronte erguida, tomando parte em estudos de assuntos que lhes dizem respeito; de olhar iluminado, como um homem livre; tomando parte nas decisões do governo, como um ente superior. Acabados os facciosismos, os regionalismos; organizada a Nação, participando os trabalhadores no governo, pelos seus representantes legítimos; exercida a fiscalização pelo Estado Integralista, sobre todas atividades produtoras, estarão abertas as portas a todas aptidões. As classes organizadas garantirão os seus membros, em contratos coletivos, velarão as necessidades de trabalho ou produção de cada um, de modo a não mais submetermos, como até agora tem sido, os que estão desempregados, às humilhações dos pedidos de emprego, tantas vezes recebidos com desprezo pelos a quem procuram, o que ocasiona justas revoltas. Livrar o operário e a pequena burguesia da indiferença criminosa dos governos liberais. Salvá-los da escravidão do comunismo. Transfigurar o trabalhador, herói da nova Pátria, no homem superior; iluminado pelos nobres ideais de elevação moral, intelectual e material, esses são nossos propósitos. Ao Estado, compete a proteção de todos.

VIII
A Família e a Nação
Tão grande a importância que damos às Classes Produtoras e Trabalhadoras, quanto a que damos à Família. Ela é a base da felicidade na terra. Das únicas venturas possíveis. Em que consiste a felicidade do Homem? Nessas pequeninas cousas, tão suaves, tão simples: o afago de uma mãe, a palavra de um pai, a ternura de uma esposa, o carinho de um filho, o abraço de um irmão, a dedicação dos parentes e dos amigos. Solidariedade no infortúnio, nas enfermidades, na morte, que nenhum Estado, na sua expressão burocrática ou jurídica, jamais evitará, em nenhum tempo. Comunhão nas alegrias, nos triunfos, nas lutas, conforto de todos os instantes, estímulo de todos os dias, esperança de perpetuidade no sangue e na lembrança afetuosa, eis o que é a família, fonte perpétua de espiritualidade e de renovação, ao mesmo tempo projeção da personalidade humana. Tirem a família ao homem e fica o animal; façam dele a peça funcionando no Estado e teremos o autômato, infeliz, rebaixado da sua condição superior. Que afeto, que conforto, que consolação poderá dar o Estado a esse "ente econômico", na hora das grandes aflições, ou na hora da morte? Quem o animará, na hora das mágoas, que serão tão inevitáveis no regime da burocracia comunista como em qualquer outro regime? No instante supremo, não bastam a ciência, a vida pública, a vida social, a vida coletiva, o egoísmo individualista; é preciso que o coração entre na vida do homem e fale essa linguagem que não é a da compaixão de um estranho, nem a da filantropia formalista, nem a do amparo oficial nem a de uma absurda socialização de afetos: - mas a linguagem profunda das afinidades longamente estimuladas e alimentadas. O Homem não pode transformar-se em uma abelha ou num térmita. O Homem e sua família precederam o Estado. O Estado deve ser forte para manter o Homem íntegro e a sua família. Pois a família é que cria as virtudes que consolidam o Estado. O Estado mesmo é uma grande família, um conjunto de famílias. Com esse caráter é que ele tem autoridade para traçar rumos à Nação. Baseado no direito da família é que o Estado tem o dever de realizar a justiça social, representando as classes produtoras. Pretendemos, nesta hora grave para a família brasileira, inscrever a sua defesa em nosso programa. É, para defender a família do operário, do comerciante, do industrial, do fazendeiro, do camponês, do comerciário, do médico, do farmacêutico, do advogado, do engenheiro, do magistrado, do cientista, do artista, do professor, do funcionário, do soldado e do marinheiro, contra a desorganização, a prostituição e a ruína, que desejamos o Estado Forte, baseado nas forças vivas da Nação.

IX
O Município, Centro das Famílias, Célula da Nação
O município é uma reunião de famílias. O homem e a mulher, como profissionais, como agentes de produção e de progresso, devem increver-se nas classes respectivas, a fim de que sejam por estas amparados, nas ocasiões de enfermidades e desemprego. Dessa maneira, os que trabalham e produzem estão garantidos pela sua própria classe, não dependem de favores de chefes políticos, de caudilhos, de diretórios locais, de cabos eleitorais. É a única maneira de se tornar o voto livre e consciente. As classes elegem seus representantes às Câmaras Municipais, como dissemos, e estas elegem seu presidente e prefeito.
Os municípios devem ser autônomos em tudo o que respeita a seus interesses peculiares, porque o município é uma reunião de moradores que aspiram ao bem-estar e ao progresso locais. A moralidade administrativa pode ser fiscalizada pelas próprias classes, pois o que determinava a desmoralização da Câmaras Municipais, no sistema liberal, era a politicagem, o apoio com que contavam os chefes políticos locais, dos dirigentes da política estadual. Extintos os partidos, o governo municipal repousará na vontade das classes. Dentro destas, nenhuma influência estranha poderá ser exercida, porque todos se sentem amparados pela própria classe a que pertencem. Não haverá jeito algum de se fazerem perseguições políticas, porque o governo local estará livre de injunções de homens que, morando fora do município, se metem nos seus negócios, como tem sido comum. O município, portanto, sede das famílias e das classes, será administrado com honestidade, será autônomo e estará diretamente ligado aos desígnios nacionais.


X
O Estado Integralista
Pretendemos realizar o Estado Integralista, livre de todo e qualquer princípio de divisão: partidos políticos; estadualismos em luta pela hegemonia; lutas de classes; facções locais; caudilhismos; economia desorganizada; antagonismos de militares e civis; antagonismos entre milícias estaduais e o Exército; entre o governo e o povo; entre o governo e os intelectuais; entre estes e a massa popular. Pretendemos fazer funcionar os poderes clássicos (Executivo, Legislativo e Judiciário), segundo os impositivos da Nação Organizada, com bases nas suas Classes Produtoras, no Município e na Família. Pretendemos criar a suprema autoridade da Nação. Pretendemos mobilizar todas as capacidades técnicas, todos os cientistas, todos os artistas, todos os profissionais, cada qual agindo na sua esfera, para realizar a grandeza da Nação Brasileira. Pretendemos tomar como base da Grande Nação, o próprio homem da nossa terra, na sua realidade histórica, geográfica, econômica, na sua índole, no seu caráter, nas suas aspirações, estudando-o profundamente, conforme a ciência e a moral. Desse elemento biológico e psicológico, deduziremos as relações sociais, com normas seguras de direito, de pedagogia, de política econômica, de fundamentos jurídicos. Como cúpula desse edifício, realizaremos a idéia suprema, a síntese de nossa civilização: na filosofia, na literatura, nas artes que exprimirão o sentido do nosso espírito nacional e humano. Pretendemos criar, com todos os elementos raciais, segundo os imperativos mesológicos e econômicos, a Nação Brasileira, salvando-a dos erros da civilização capitalista e dos erros da barbárie comunista. Criar numa única expressão o Estado Econômico, o Estado Financeiro, o Estado Representativo e o Estado Cultural. Pretendemos levantar as populações brasileiras, numa união sem precedentes, numa força jamais atingida, numa esperança jamais imaginada. Pretendemos lançar as bases de um sistema educacional para garantia da subsistência da Nação no futuro. Pretendemos insuflar energia aos moços, arrancá-los da descrença, da apatia, do ceticismo, da tristeza em que vivem; ensinar-lhes a lição da coragem, incutindo-lhes a certeza do valor que cada um tem dentro de si, como filho do Brasil e da América. Movimentar as massas populares numa grande afirmação de rejuvenescimento. Sacudir as fibras da Pátria. Erguê-la da sua depressão, do seu desalento, da sua amargura, para que ela caminhe, dando começo à Nova Civilização, que, pela nossa força, pela nossa audácia, pela nossa fé faremos partir do Brasil, incendiar o nosso continente, e influir mesmo no Mundo. Para isso, combateremos os irônicos, os "blasés", os desiludidos, os descrentes, porque nesta hora juramos não descansar um instante, enquanto não morrermos ou vencermos, porque conosco morrerá ou vencerá uma Pátria.


MANIFESTO DE GUANABARA

Nós, os soldados de Deus e da Pátria, reunidos no Largo do Paço, nesta histórica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, nesta data natalícia da igualmente histórica cidade de São Paulo do Campo de Piratininga, sob as bênçãos de Deus, realidade primordial, suprema e absoluta, e em nome Deste, da Pátria e da Família, lançamos o presente manifesto, sabendo que de nosso triunfo ou derrota dependerá o triunfo ou derrota do Brasil e de que moralmente a vitória já é nossa.
Introdução
Art. 1° - O Integralismo é uma Doutrina que, por Deus, Ser Supremo e Absoluto, pela Pátria, Terra dos Pais, que é também nossa e de nossos filhos nascidos ou por nascer, e pela Família, cellula mater da Sociedade, compreende o Universo de um modo integral, pretendendo edificar o Novo Estado, a Nova Sociedade e a Nova Civilização de acordo com a hierarquia de seus valores espirituais e materiais, segundo as leis que regem seus movimentos e sob dependência de Deus, que criou o Homem à sua imagem e semelhança, lhe conferindo uma destinação superior, um destino transcendente.
Parágrafo único: A hierarquia supracitada, em que se fundam o princípio e o exercício da Autoridade, faz prevalecer o Espiritual sobre o Moral, o Moral sobre o Social, o Social sobre o Nacional e, por derradeiro, o Nacional sobre o Particular.
Art. 2º - O Integralismo é um movimento cívico-político que tem por objetivos a felicidade do povo brasileiro, a Justiça Social, a grandeza da Nação, que deve ser redimida e reconduzida à marcha de seu destino histórico, a edificação de um Estado Ético e de uma Democracia Integral e a criação de uma Ordem Jurídica que - emanada da íntima essência nacional, da Tradição e do Passado Integral da Nação, refletindo, pois, o Brasil real, profundo e autêntico – concretize as normas do Direito Natural, levando sempre em conta as circunstâncias de tempo e de lugar.
Art. 3º - O Integralismo, não defendendo expressamente nem a Monarquia e nem a República e reunindo tanto monarquistas quanto republicanos, não é um sistema de governo e sim um regime, podendo ser implantado tanto numa Monarquia quanto numa República.
Parágrafo único: O Integralismo edificará uma Democracia Integral, que poderá ser coroada ou não, de acordo com a vontade consciente do povo brasileiro.
Art. 4º - Não é possível que haja um Novo Estado, uma Nova Sociedade ou uma Nova Civilização sem que haja um Novo Homem, sendo em razão disto que o Integralismo prega a Revolução Interior, Revolução do Espírito, mudança de atitude em face da realidade e dos problemas, que necessariamente deve anteceder à Revolução Exterior, Revolução das Instituições, que não pode em hipótese alguma violar a Liberdade, a Integridade e a Intangibilidade da Pessoa Humana, de seu livre-arbítrio e dos Grupos Naturais a que esta pertence e nos quais melhor exerce seus direitos e cumpre seus deveres em face da Sociedade, da Pátria e da Família.

Capítulo I: Da Religião
Art. 5º - O Integralismo é um movimento espiritualista, afirmando a imortalidade do espírito e o amor a Deus e à Pátria Celestial acima de todas as coisas.
Art. 6º - O Integralismo é uma frente ampla espiritualista, reunindo pessoas de todos os credos irmanadas na luta contra o materialismo grosseiro e avassalador, tanto em sua face liberal quanto em sua face comunista.
Art. 7º - O Integralismo se propõe a respeitar a liberdade de culto, desde que o culto  não constitua uma afronta à Moral, à Ética e aos Bons Costumes ou uma ameaça à Segurança Nacional, defendendo, em matéria de cooperação religiosa, o regime de Concordata, sem prejuízo da autonomia das partes e visando sempre a grandeza e a felicidade da Nação dentro de suas bases cristãs, do ideal cristão sob cujo signo nasceu e floresceu nossa Sociedade.

Capítulo II: Da Pessoa Humana e de seus Deveres e Direitos Naturais
Art. 8º - A Pessoa Humana, substância individual de natureza racional criada por Deus à sua imagem e semelhança, possui um espírito imortal, dotado de inteligência e de livre-arbítrio, devendo encontrar nos Grupos Naturais e no Estado os meios de melhor cumprir seus deveres e de melhor exercer seus direitos, de acordo com sua natureza transcendente.
Art. 9º - O Ente Humano, que tem o mister de praticar, em sua marcha sobre a Terra, as virtudes que o enobrecem, não deve ter seu valor medido pelos bens que possui ou pela classe social ou etnia a que pertence, mas sim por suas virtudes morais, éticas e cívicas e pelo trabalho por ele exercido em benefício do Bem Comum, compreendido este como o conjunto de condições externas adequadas a permitir o integral desenvolvimento do Homem e dos Grupos Naturais.
Art. 10º - O Ser Humano, que deve ter sua Integridade, sua Dignidade, sua Intangibilidade  e sua Liberdade respeitadas pelo Estado, é dotado de Direitos Naturais impostergáveis, sagrados e invioláveis, tais como:
I – O Direito à Vida, desde a concepção até à morte natural;
II – O Direito à Liberdade, desde que usada para o bem;
III – O Direito ao Trabalho, direito de cumprir um dever social e humano, remunerado de forma justa, de modo que o trabalhador progrida e se desenvolva moral, ética, mental, social, política e economicamente;
IV – O Direito à Associação, isto é, o direito de se unir a outras pessoas para formar associações autônomas de ordem cultural, científica, social, econômica, profissional ou recreativa, com o fim de proteger os interesses de seus membros e de fortalecer o Bem Comum;
V – O Direito à Religião, direito de cumprir seu dever de confessar a Deus e de prestar-Lhe culto público e privado;
VI – O Direito à Propriedade, dentro dos limites impostos pelo Bem Comum, ou seja, o Direito de Propriedade exercido de modo justo, em proveito de toda a Sociedade;
VII – O Direito de constituir Família por meio do matrimônio e de organizá-la;
VIII – O Direito à Educação Integral, isto é, à formação física, intelectual, ética, moral, cívica e religiosa.

Capítulo III: Do Direito Natural e do Direito Positivo
Art. 11 – O Ente Humano, na esfera de suas aspirações intelectuais, morais e materiais, possui, como vimos, Direitos Naturais decorrentes de sua própria essência e não do Estado, que tem, com efeito, o dever de respeitá-los.
Art. 12 – A Doutrina do Sigma defende o Direito Natural clássico, concreto e autêntico, opondo-se tanto ao Direito Natural laicizante, abstrato e inautêntico do “Iluminismo” quanto ao estatalismo moral-ético-jurídico caracterizado pela crença de que o Estado é a fonte única e exclusiva da Moral, da Ética e do Direito.
Art. 13 – O Direito Natural clássico tem suas bases assentadas sobre a tradição formada pelos filósofos da Grécia, pelos jurisconsultos de Roma e pelos teólogos e canonistas da denominada Idade Média.
Art. 14 – O Direito Natural deve ser completado pelo Direito Positivo, cabendo a este a concretização das máximas gerais daquele, tomando em consideração as circunstâncias de tempo e de espaço e estando plenamente de acordo com a Tradição Integral e o Espírito da Nação.

Capítulo IV: Da Família
Art. 15 – A Família, instituição natural e divina, tendo por fundamento o matrimônio entre pessoas de sexos distintos, é a cellula mater da Sociedade, o primeiro e mais importante dos Grupos Naturais, posto que constitui o nascedouro da vida social e o repositório das mais lídimas tradições pátrias.
Art. 16 – O Estado deve fazer tudo o que for possível para manter a integridade da Família, respeitando a intangibilidade de seus direitos e lastreando sua autonomia com sólidas bases de natureza econômica.
Art. 17  A fim de que cumpra sua missão natural e histórica, tem a Família o direito:
I -  A salário suficiente para atender a suas necessidades morais, intelectuais e materiais básicas;
II – A moradia digna e sã, tanto no aspecto material como no aspecto moral, e que não seja distante de maneira excessiva do local de trabalho;

Capítulo V: Da Propriedade
Art. 18 – A Propriedade Privada é legítima, uma vez que está de acordo com a natureza humana e porque, de maneira geral, tal regime é o que melhor assegura a utilização dos bens materiais e a Liberdade da Pessoa Humana.
Art. 19 – Os bens materiais da Terra estão destinados, antes e acima de tudo, à satisfação das necessidades sociais da Coletividade, de modo que o Direito de Propriedade deve ser exercido de maneira justa, em proveito de todos. Em outras palavras, a Propriedade deve cumprir sua Função Social.
Parágrafo único: A Propriedade que não exercer sua Função Social deverá ser expropriada para fins de Reforma Agrária (caso esteja localizada na zona rural) ou de Reforma Urbana (caso se situe na zona urbana), recebendo seu proprietário indenização justa e prévia.
Art. 20 – Por Reforma Agrária entendemos o conjunto de medidas visando à revisão das relações jurídicas e sócio-econômicas relativas à propriedade e ao trabalho rural, no sentido de uma mais justa e eqüitativa distribuição da terra e da renda, tendo por fim a promoção da Justiça Social, do Progresso e do bem-estar do Homem do campo e o integral, sustentável e harmonioso desenvolvimento econômico e social do País, com a gradual extinção das formas antieconômicas e anti-sociais de exploração da terra, ou seja, do latifúndio e do minifúndio.  
Parágrafo único: A Reforma Agrária de que o nosso Brasil carece é uma Reforma Agrária justa, equilibrada, sadia, integral e democrática, sem propósitos ideológicos de qualquer espécie, do mesmo modo que a Reforma Agrária de que não necessitamos é a Reforma Agrária confiscatória, motivada por interesses de natureza ideológica, em proveito de movimentos propagadores de doutrinas estranhas à nossa Tradição e assentadas no ódio, na violência, no terror e na desagregação moral, ética e social.

Capítulo VI: Do Município, da Pátria e da Nação
Art. 21 – De acordo com a Doutrina Integralista, marcadamente municipalista,  o Município, cellula mater da Nação, é uma reunião de pessoas livres e de famílias politicamente organizadas, constituindo um Grupo Natural da Sociedade e devendo ser autônomo em tudo aquilo que respeitar a seus peculiares interesses.
Art. 22 – A Pátria, composta dos mortos que a fundaram, dos vivos que a continuam hoje e daqueles que estão por nascer e a continuarão amanhã, é um patrimônio espiritual, uma amplificação da entidade familiar.
Parágrafo único: O Integralismo prega o patriotismo, sentimento espontâneo e decorrente da Lei Natural.
Art. 23 – A Nação é caracterizada por sua Tradição e formada por seus filhos e pelos Grupos Naturais de que estes fazem parte e em que melhor cumprem seus deveres e exercem seus direitos, consistindo em uma entidade inconfundível, um organismo dinâmico dotado de modo de vida, de fórmula sociológica e de missão próprios, decorrentes de seu Passado e Tradição Integral.
§ 1° - O Integralismo sustenta o nacionalismo sadio, construtivo, justo e ponderado, tendente ao Universalismo e entendido como virtude moral que nos impele a amar e defender a Nação e seus superiores interesses, pressupondo não somente o patriotismo mas também o tradicionalismo.
§ 2° - O nosso tradicionalismo não se confunde com o passadismo ou o conservantismo, sendo antes um pressuposto para o verdadeiro Progresso e a verdadeira Renovação.

Capítulo VII: Da questão étnica
Art. 24 – O Integralismo é contrário a toda e qualquer forma de preconceito étnico, considerando que o Ser Humano não deve ser julgado pela cor de sua pele ou por sua etnia, mas sim por seus valores morais, éticos e cívicos e pelo trabalho que exerce em benefício do Bem Comum.
Art. 25 – A Doutrina Integralista considera que as diferentes etnias são diversas mas não adversas, se opondo, portanto, à “luta de raças” que nossa “esquerda” vem tentando implantar no País.

Capítulo IX: Da questão econômica e social
Art. 26 – A Economia deve ser um instrumento a serviço da Pessoa Humana, ao contrário do que tem ocorrido em geral desde pelo menos a chamada Revolução Industrial.
Parágrafo único: Toda a vida econômica da Nação deve estar subordinada ao Bem Comum e ao fim último do Homem, que é o Sumo Bem, isto é, Deus.
Art. 27 – O Integralismo defende o regime da livre iniciativa, que não se confunde com o do livre mercado, devendo o Estado intervir na Economia, em colaboração com a iniciativa privada, de acordo com o Princípio da Subsidiariedade.
§ 1° -   O Integralismo prega que a Economia deve ser dirigida no sentido da supremacia do Social sobre o Nacional e do Nacional sobre o Individual.
§ 2º - O Estado deve se contrapor aos interesses dos grandes grupos econômicos e financeiros internacionais que ameaçam a sua Soberania.
Art. 28 – Questão Social é, em sentido estrito, a questão das relações existentes entre o Capital e o Trabalho, notadamente no que tange à situação da classe operária.
§ 1° - A Questão Social só será resolvida pela cooperação de todos, com a adoção de novos processos de regulamentação da indústria e do comércio, de sorte que se evitem os desequilíbrios tão nocivos à estabilidade da Sociedade, e com a socialização e o aprimoramento constante dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana. 
§ 2° - O trabalhador deve perceber salário justo e adequado às suas necessidades, ter participação nos resultados de acordo com seu esforço e sua capacidade e tomar parte nas decisões governamentais.
§ 3° - O Integralismo se opõe a luta de classes , defendendo que estas, sendo diversas mas não adversas, podem e devem viver em harmonia.

Capítulo X: Do Estado e da Constituição
Art. 29 – O Estado Integral, síntese nacionalista do Estado Cristão, é o Estado Ético a um só tempo antitotalitário e antiindividualista, que, não constituindo um princípio e nem um fim, mas apenas um meio, um instrumento a serviço da Pessoa Humana e do Bem Comum, está subordinado a Deus e é transcendido pela Ética e movido por um ideal ético.
Art. 30 – O Estado Integral, síntese de uma hierarquia de grupos, existe para proteger o Homem e não para violentá-lo, devendo promover o Progresso e a Renovação com Permanência e realizar a síntese da Civilização Brasileira na Filosofia, na Literatura, no Direito, nas Artes que exprimirão o verdadeiro Espírito Nacional.
Art. 31 – É ao Estado Integral que cumprirá a defesa da Soberania Nacional e a missão de restaurar a grandeza de nossa Nação e de fomentar o seu prestígio no exterior, fazendo com que ela se torne uma Nação efetivamente respeitada no coro das grandes nações, assumindo o papel de liderança que lhe cabe não só na América do Sul, mas também em toda a dita América Latina, no Mundo Lusófono e Hispânico, em todo o Hemisfério Meridional e mesmo em todo o Orbe Terrestre.
Parágrafo único: O Brasil deve lutar pela fundação de três grandes confederações de Estados irmãos unindo moral, cultural, política e economicamente, de maneira respectiva:
I – Todos os países de Língua Portuguesa;
II – Todas as nações da América Hispânica, ressaltando-se que o Brasil é tão hispânico quanto seus vizinhos, da mesma forma que Portugal é tão hispânico quanto a vizinha Espanha, com quem divide o território da Península Hispânica, ou Ibérica;
III – Todo o Mundo Hispânico, composto por todas as Nações de Língua e de Cultura castelhana e portuguesa.
Art. 32 – A Nação Brasileira necessita de uma Constituição que constitua o espelho do País real, do Brasil profundo e autêntico, Brasil das igrejas e demais locais em que elevamos nossas preces a Deus e dos cemitérios em que repousam os nossos antepassados, Brasil de nossas moradas, onde labutamos pelo nosso pão cotidiano e pelo engrandecimento do Bem Comum, isto é, uma Constituição que, ao contrário das demagógicas, abstratas e artificiais constituições burguesas que temos tido e que refletem idéias importadas da Europa e dos Estados Unidos da América, onde, aliás, não são tão menos abstratas e inautênticas do que aqui.
Parágrafo único: A Constituição, que deve, como toda a Ordem Jurídica, emanar da Tradição Integral do Brasil, tem o mister de consagrar todos os direitos concretos do Homem, delimitando da melhor forma possível as competências de cada um dos órgãos e Poderes do Estado, bem como as diferenças entre este e o Governo.
Conclusão
É chegado o momento de, uma vez mais, acordar as forças ocultas que dormem no seio da Grande Pátria e, assim, despertar novamente o Brasil de seu sono e de seu sonho, o reconduzindo às bases morais de sua formação e ao caminho de seu destino histórico.
É chegado o momento de restaurar o Primado do Espírito e a Filosofia Perene e de reconduzir a Ciência Jurídica ao Direito Natural clássico, a Sociedade à Tradição e as relações internacionais ao Universalismo personalista que a chamada Idade Média tão bem realizou.
Devemos ter em mente que de nossa marcha depende não apenas o futuro do Brasil como também o de todo o Mundo e que de nossa marcha depende, ademais, a vitória ou derrota final de nossa Nação


MANIFESTO DE 13 DE MAIO
À mocidade civil e militar do nosso Brasil; aos homens e mulheres de todas as classes e etnias formadoras da Nacionalidade, sob as bênçãos de Deus e de nossos ancestrais, sonhando uma Pátria Nova, uma Nação Maior e Melhor, livre da miséria e dos preconceitos étnicos.

O Integralismo, movimento cívico, político, cultural e social alicerçado numa visão integral do Universo e do Homem, luta pela edificação de um Estado Ético e de uma Democracia Orgânica e condena, à luz dos ensinamentos do Evangelho e de pensadores como Alberto Torres, todas as teorias defensoras da superioridade de determinadas etnias sobre outras. Defende, a Doutrina do Sigma, portanto, que o nosso povo é tão capaz quanto qualquer outro e que o Brasil deve se tornar efetivamente uma Democracia Étnica onde brancos, negros, índios, orientais, caboclos, mulatos, cafuzos e demais mestiços vivam em harmonia e em igualdade de deveres e de direitos em face da Sociedade e do Estado.
Os Integralistas, partidários da harmonia social e étnica que somos, rejeitamos tanto a luta de classes quanto a luta de “raças” e fazemos nossas as palavras de Plínio Salgado, criador, Chefe perpétuo e principal doutrinador do Integralismo Brasileiro, quando preleciona que “o problema do mundo é ético e não étnico”.
Há milênios que têm se manifestado, entre os diversos povos da Terra, o orgulho étnico. Os helenos, ou gregos, por exemplo, movidos pelo orgulho que sentiam da magnífica Civilização e da apurada Cultura por eles criadas, se julgavam superiores aos demais povos, a que denominavam bárbaros. Mesmo grandes pensadores da Hélade, como Aristóteles de Estagira, têm, em suas obras filosóficas, passagens reveladoras de preconceitos étnicos.
Os romanos, criadores de igualmente portentosa Civilização e Cultura, além de um vasto e glorioso Império que dominou a quase totalidade do Mundo então conhecido, também viam os demais povos como bárbaros. Cumpre ressaltar, porém, que, sobretudo a partir do reinado de César Augusto, os preconceitos do povo romano contra os demais povos do Império foram caindo, ao mesmo tempo em que tais povos absorviam a Cultura Romana e a própria cidadania romana era a eles estendida.
É provável, contudo, que nenhum povo da Antiguidade tenha sido tão racista quanto o povo hebreu, como comprovam diversas passagens do Antigo Testamento, valendo sublinhar que tal racismo não se alicerçava no sentimento de orgulho diante de sua Civilização e Cultura - que, aliás, estavam muito longe de figurar entre as mais extraordinárias -, mas sim em sua crença religiosa.
O Cristianismo, porém, traz uma nova concepção de Mundo, uma nova cosmovisão em que não há lugar para os preconceitos baseados em uma pretensa pureza de sangue, no nível de Civilização e de Cultura ou no poder e extensão de um Império. Cristo universaliza o culto monoteísta, demonstrando que Deus não é o privilégio de uma casta, uma classe, uma etnia, uma pátria ou uma nação, estando em toda a parte, dirigindo o destino de todos os povos e ouvindo toda a Humanidade, onde quer que um coração puro se eleve pela Fé.
À luz da Fé Cristã, todos os homens são irmãos, havendo sido criados pelo mesmo Deus onipotente e misericordioso à Sua imagem e semelhança e remidos pelo sangue de Jesus Cristo.
A Igreja, fundada pelo próprio Cristo, abre a todos as portas da salvação pelo sacramento do batismo, sendo, ademais, a intérprete do Direito Natural. Todos são iguais diante deste, que se constitui na leitura da Lei Eterna pelo Homem à luz da razão.
Na chamada Idade Média, quando a Filosofia do Evangelho dominava as nações, a sabedoria e a virtude penetravam as leis, os costumes e as instituições dos povos europeus; quando era por Cristo e com Cristo que tudo se fazia; quando imperava, enfim, a Civilização Cristã, não havia espaço para o racismo. A denominada Idade Média, tão deturpada por seus adversários, os inimigos da Cristandade, que a denominaram “Idade das Trevas”, foi, antes, cumpre salientar, a “Idade da Luz” em que se erigiram as grandes catedrais, os castelos e os mosteiros, se fundaram as universidades e se escreveram obras do quilate da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino, e da Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Havendo atingido, o Medievo, seu apogeu no século XIII, entrou ele em decadência logo após, no período que Huizinga denomina “Outono da Idade Média” e que foi marcado pelo surgimento das ideias voluntaristas de Duns Scott e Guilherme de Occam. Negando a ordem racional objetiva que se impõe à Vontade, sustentaram eles o primado desta, preparando o caminho àqueles que, séculos mais tarde, afirmando a plena autonomia da Vontade, negariam o fundamento transcendente da Ordem Moral, Ética e Jurídica, erigindo o Estado em fonte única da Moral, da Ética e do Direito.
Foi no “Outono da Idade Média”, ainda, que surgiu o humanismo antropocêntrico, que faz do Homem e não de Deus a medida de todas as coisas, e que se preparou a quebra da unidade do Mundo Cristão, tão lamentada por Novalis, e o consequente fim da fraternidade universal entre os povos, do universalismo professado pela Idade Média, que não se pode confundir de forma alguma com o cosmopolitismo de nossos dias.
A partir de Maquiavel, a concepção cristã da política e das relações interestatais cedeu lugar a uma concepção naturalista posteriormente desenvolvida por Hobbes, que, por seu Leviatã, pode ser considerado, ao lado de Hegel, como o principal precursor do Estado Totalitário. Este é condenado pelo Integralismo, que, tendo uma concepção total do Universo e do Homem, considera o Estado somente como parte, e não como um todo acima da Pessoa Humana e dos Grupos Naturais.
Após as descobertas marítimas do século XVI, vemos, nas colônias de determinadas potências européias, um racismo pronunciado, que somente não existiu nas possessões ultramarinas de Portugal e Espanha, onde houve, com efeito, forte miscigenação étnica e cultural.
Nenhum século, contudo, foi tão racista quanto o século XIX, quando – como demonstra Alberto Torres – certas potências européias utilizaram as teorias racistas como justificativa para sua política de expansão imperialista.
Os conceitos darwinianos de luta pela vida, seleção natural e sobrevivência dos mais aptos logo foram transplantados para o plano étnico e a ideia do Super-Homem, do Além-do-Homem, que Nietzsche concebera inspirado no “Homem do Futuro”, de Richard Wagner, e no “Único”, de Max Stirner, foi rapidamente transformada na idéia de Super-Raça.
Foi nesta época que surgiram as obras do Conde de Gobineau, de Vacher de Lapouge e de Houston Stewart Chamberlain, todas elas fazendo a apologia da “raça ariana”. Sobretudo este último, genro de Richard Wagner e autor de Os fundamentos do século XIX, influenciou sobremaneira o Nacional-Socialismo, que, aliás, chegou a conhecer e apoiar, sendo copiosamente citado por Hitler em Minha luta e por Alfred Rosenberg em O mito do século XX e considerado por este o arauto e edificador da Alemanha futura.
A semelhança existente entre as doutrinas de Gobineau, Malthus, Vacher de Lapouge, Lagarde, Houston Stewart Chamberlain, Gumplowicz, de certas filiações sociais e políticas do darwinismo e mesmo Nietzsche, que chegaram, por origens e fontes distintas e métodos pretensamente científicos à conclusão da existência de uma superioridade morfológica, irredutível, de certos povos e etnias, constitui a mais clara prova da natureza política de tais idéias, predominantes na ciência social na segunda metade do século XIX. Não podemos olvidar que Karl Marx tinha idéias profundamente racistas e etnocêntricas, que usou, por exemplo, para justificar a invasão do México pelos Estados Unidos da América e a colonização da Índia pelos britânicos.
Foi Alberto Torres – primeiro intelectual brasileiro a se bater contra as idéias racistas aqui aceitas, integral ou parcialmente, por homens como Sílvio Romero, Nina Rodrigues e Euclides da Cunha – quem observou que a ciência demonstra, por meio da História, o valor das civilizações morenas. Todo o edifício de superioridade teutônica caiu por terra, com a irrefragável demonstração de que as fontes de nossa Civilização brotaram do cérebro de homens do Mediterrâneo, frisou o autor de O problema nacional brasileiro.
Hoje, após vários anos de experiências genéticas, chegou-se à conclusão de que as diferenças entre um branco nórdico e um negro africano não compreendem senão uma fração de 0,005 do genoma humano.
Alberto Torres nos legou diversas lições admiráveis nos planos político, sociológico e econômico, a despeito de seu pensamento apresentar algumas falhas, quase todas fruto de seu desapego à Tradição. Plínio Salgado, que soube como ninguém absorver as lições positivas do mestre, ao mesmo tempo em que rejeitava seus erros, o seguiu na luta contra o racismo, destacando sempre o uso deste por determinadas potências com o fim de justificar suas políticas expansionistas e ensinando que as nações desenvolvidas deviam tal condição às suas reservas de hulha e de outros minerais vitais ao incremento das atividades industriais e não à tão propalada quanto falsa superioridade étnica de seus povos.
No Manifesto da Legião Revolucionária de São Paulo, lançado na Capital Paulista em 1931, Plínio Salgado, havendo demonstrado o que acabamos de afirmar, observa que a “situação de desequilíbrio econômico entre os povos deve convencer-nos de que o único caminho da independência, da verdadeira liberdade da afirmação nacional está na criação de uma civilização de sentido geográfico, em contraposição à outra, de sentido geológico. Ou melhor: uma civilização espiritual com uma consciência maior da dignidade do homem. Uma civilização que seja a primeira a clamar, no mundo contemporâneo, pela valorização do homem, como força suprema, como mentalidade e como espírito, como trabalho de vontade, como conjunto de forças independentes de uma mecanização humilhante a serviço de um capitalismo opressor, que exige em títulos de nobreza os títulos da bolsa e as marcas aristocráticas dos automóveis de luxo.
Que nos valha, até certo ponto, a lição admirável de Gandhi. Que as civilizações de expressões geográficas cooperem o menos possível com os detentores de todas as forças do imperialismo econômico dos países que nasceram ricos, por possuírem os elementos materiais para a dominação irresistível dos povos por eles denominados ‘fracos’ e das raças por eles chamadas de ‘inferiores’”.
1931 foi também o ano da fundação, nesta mesma Capital, da Frente Negra Brasileira, cujo principal líder foi Arlindo Veiga dos Santos, professor, pensador, jornalista, poeta e criador do Patrianovismo, movimento patriótico, nacionalista, monárquico e tradicionalista fortemente influenciado pelo Integralismo Lusitano e surgido em 1928 com a fundação do Centro Monarquista de Cultura Social e Política Pátria-Nova. A Frente Negra Brasileira, maior e mais sadio movimento negro não apenas da História do Brasil, mas de toda a chamada América Latina, teve o mérito de não combater apenas o racismo do branco contra o negro, mas também o racismo do negro contra o branco, hoje lamentavelmente presente na absoluta maioria dos ditos movimentos negros.
Em 1932, no denominado Manifesto de Outubro, documento que inaugura oficialmente o Integralismo Brasileiro, Plínio Salgado volta a condenar o racismo, salientando que os brasileiros das cidades se envergonham do negro e do caboclo de nossa terra, havendo criado preconceitos étnicos originários dos países que nos querem dominar. Mais tarde, em abril de 1934, o autor de Psicologia da Revolução esclarece definitivamente a posição do Integralismo em face da questão étnica, frisando que os Integralistas não sustentam preconceitos étnicos, considerando o povo brasileiro tão superior quanto qualquer outro e não nutrindo nenhuma prevenção em relação ao judeu:
“Não podemos querer hoje mal ao judeu, pelo fato de ser o principal detentor do ouro, portanto principal responsável pela balbúrdia econômico-financeira que atormenta os povos, especialmente os semicoloniais como nós, da América do Sul. O judeu-capitalista é igual ao cristão-capitalista (...). Ambos não terão mais razão de ser porque a humanidade se libertará da escravidão dos juros e do latrocínio do jogo das Bolsas e das manobras banqueiristas. A animosidade contra os judeus é, além do mais, anticristã e, como tal, até condenada pelo próprio catolicismo. A guerra que se fez a essa raça na Alemanha, foi, nos seus exageros, inspirada pelo paganismo e pelo preconceito de raça. O problema do mundo é ético e não étnico”.
Assim, o Integralismo rejeita o antijudaísmo de cunho étnico, não fazendo distinção alguma entre o judeu capitalista e o capitalista que se diz cristão, entre o açambarcador que frequenta a sinagoga e aquele que vai à igreja e, do mesmo modo, não distinguindo o judeu honrado, honesto, patriota e nacionalista brasileiro do cristão igualmente virtuoso.
Em fins de 1935, Plínio Salgado redige a Carta de Natal e Fim de Ano, onde ataca pesadamente o racismo e o totalitarismo, denunciando os erros do Nacional-Socialismo e a divinização do Führer como nenhum outro fizera antes dele.
O Integralismo, reunindo centenas de milhares de brasileiros de todas as etnias, credos e classes sociais, configurou-se como o maior movimento antirracista da História Pátria, tendo merecido a admiração e o apoio de Arlindo Veiga dos Santos. Dentre os negros ilustres que vestiram a camisa-verde, podemos destacar o “Almirante Negro” João Cândido, o ativista negro, teatrólogo, escritor, artista plástico e ex-Senador Abdias do Nascimento, o sociólogo Guerreiro Ramos, o escritor e militante negro Sebastião Rodrigues Alves, o professor de Direito, escritor e membro da Academia Sul-Riograndense de Letras Dario de Bittencourt, primeiro Chefe Provincial da AIB (Ação Integralista Brasileira) no Rio Grande do Sul, e o jornalista, escritor, advogado, militante negro e professor Ironides Rodrigues, que durante anos assinou uma coluna sobre cinema no jornal integralista A Marcha, dirigido por Gumercindo Rocha Dorea. Este último, como editor, publicou diversas obras de cunho antirracista.
Atualmente, a “esquerda” brasileira substitui a luta de classes pela luta de “raças”, divulgando o mito da “Nação bicolor”, incutindo nos negros e pardos o sentimento de ódio contra os brancos e implantando, em nossas universidades, o injusto e inconstitucional sistema de cotas, que nada mais é do que a institucionalização do racismo em nosso País e que não serve senão às potências que nos querem escravizar. Nós, Integralistas, nos opomos a isso, proclamando que as injustiças, muito mais econômicas do que étnicas, devem ser resolvidas pela Educação Integral de nosso povo e pelo desenvolvimento da Economia, por meio da combinação da iniciativa privada com a ação supletiva, corretiva e promocional do Estado, de acordo com o princípio da subsidiariedade e tendo sempre em vista o desenvolvimento do Bem Comum.
É contra todo e qualquer preconceito étnico e em favor da edificação de uma verdadeira Democracia Étnica e de um Estado Integral que luta a Frente Integralista Brasileira, único Movimento que representa plenamente, em nossos dias, os ideais patrióticos, nacionalistas, tradicionalistas e renovadores da Doutrina do Sigma.
Sabemos que nosso combate contra as idéias racistas e sobretudo contra sua institucionalização em nosso País não será nada fácil, mas também sabemos que conosco está o Brasil profundo, real e autêntico e que nos planos moral e ético a vitória já nos pertence.
A 13 de Maio de 1888, a Princesa D. Isabel, então Regente do Império do Brasil, assinou a Lei Áurea, pondo fim à escravidão, mais profunda nódoa de nossa História. Hoje, passados cento e vinte e um anos daquela data histórica, carecemos de pugnar por uma Nova Abolição, pela Abolição de todo o nosso povo da escravidão econômica aos grandes grupos financeiros internacionais. Para tanto, chegado é o momento de desencadear as forças infinitas que dormem, ignotas, no fundo da alma de nossa Nação.

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